terça-feira, 11 de maio de 2010

Saci - a verdadeira história!


Conta-se que no interior de Minas Gerais um fazendeiro muito rico teve um filho, e desde cedo dizia a ele para não se envolver com os escravos. Os negros pra ele eram como animais selvagens, deviam ser usadas para o trabalho, mas não deviam ser tratadas como iguais, afinal:
"-Agente não traz os bois pra dentro de casa, se não, eles destroem tudo, saem pisando até as louças. Não tem jeito, negro é igual ou até pior que os bicho." Dizia isso, mas não se acanhava em nada em ir até a senzala quando começa a anoitecer para se deitar com as negrinhas. Não tinha negra naquela fazenda que não tivesse se deitado na rede com aquele homem.
Já a mãe do menino era uma mulher muito boa, e tinha uma grande estima pelas escravas, sabia dos habitos de seu marido, mas nada podia fazer. Cabia a mulher apenas dizer sim, sem questionar ou se queixar. O "-Sim, senhor" era a única opinião que lhe era permitida dar.
Ainda bebê o menino foi entregue aos cuidados de uma ama de leite, pois sua mãe ficou muita fraca com a gravidez e seu leite secou. Ter uma ama de leite era algo muito comum e muitas vezes as mães até preferiam deixar esse trabalho para as negras. Tanto ou mais do que hoje, as mulheres criam que amamentar deixava os peitos caídos. Usavam as escravas prenhas ou com filhos pequenos para dar de mamar aos seus filhos brancos; as negras eram obrigadas a deixar de amamentar seus próprios filhos para amamentar os filhos das sinhazinhas. E assim, desde pequeno, os meninos aprendiam que os escravos tinham que fazer tudo por eles, querendo ou não. A mãe do menino morreu enquanto ele ainda dava seus primeiros passos, o pai dizia que ela tinha tido um mal subito, mas o que rodava na boca dos negros da senzala é que a pobre morreu de desgosto de tanto ver as maldades do marido.
A ama se encarregou da criação do menino. Ele foi criado junto a uma menina negrinha, filha de uma escrava que foi adquirida ainda grávida pelo Sinhôzinho da fazenda, seu nome era: Pererê. A mãe de Pererê também morreu enquanto ela era pequenina. Mas morreu no tronco, nas mãos do seu sinhô, porque não queria ir pra rede com ele, e quando foi forçada a deitar-se com ele tirou forças sabe Deus de onde e o impediu de tê-la. Morreu porque não queria ser tão dele assim.
O filho do fazendeiro e da negra corajosa cresceram juntos, brincaram juntos... Quando agente é criança não percebe o quanto é tratado diferente dos outros. O menino gostava muito de Pererê, e não via nela nada de diferente, chegava a se perguntar porque a menina andava sempre com a mesma roupa e até se zangava quando a chamava pra jogar pedrinhas no poço e ela dizia que tinha que varrer a cozinha. Achava frescura da menina. Pensava que ela podia escolher. Não via mal nenhum em nada. Mas logo o menino cresceu e começou a ver que Pererê era negra. E entendeu o que aquilo queria dizer. Mas isso não diminui nada o que ele sentia por ela. O que veio com a idade foi o sentimento de posse. Ele se via dono de Pererê e logo quis exercer seu poderio. Jogou Pererê na rede, e ela não pode escolher, tinha que ser dele. Pererê gostava dele, e queria que ele também fosse dela. Queria ser dele, mas de um outro jeito, não porque era obrigada.
Na rede Pererê virou mulher, mesmo sem querer. Era ainda moça, devia ter seus treze anos. E aos dezessete de tanto ser levada ali, Pererê se viu prenha. E o menino, tido como homem em tal idade, resolveu contar ao pai e assumir a gravidez da escrava Pererê. O fazendeiro, não quis nem saber, disse que podia entender o filho ter se deitado com a escrava que era moça bem feita de corpo, mas daí a chamar de seu o filho da negra já era demais, disse que nunca poderia imaginar ser avô de um cachorro. Daí fez-se a confusão. Filho e pai nunca discutiram feio, o jovem jogou na cara do pai a morte da mãe, disse que bicho mesmo era ele, que não sabia o que era amor de verdade e nem o que significava ser pai. O Fazendeiro trancou o filho num quarto da casa e botou dois jagunços dos mais fortes pra fazer vigia, do lado do quarto do filho armou uma rede e levou a escravinha pra ir ter com ele, nem esperou a menina dar a luz, a levou pra rede e fez questão de deixá-la gritar bem alto, que era pro filho saber de quem é que era a escrava.
O filho ficou em silêncio. Os escravos mais velhos dizem que ele chorava, mas os jagunços dizem que ele ficou em silêncio e quando lhe foi aberta a porta tudo o que fez foi pegar suas coisas e ir embora. Não conseguia olhar pra escrava que antes chamava de sua e não suportava ver seu pai, os gritos de Pererê ainda lhe ecoavam na cabeça. Deixou pra trás a negra e sua barriga. E a escrava tudo o que fazia era chorar. Quase morreu de desgosto. Passou a dizer pra quem quisesse ouvir que seu filho viria pra ser diferente daquele mundo, e sempre que ouvia o vento sentia-se chamada pra ir se encontrar com as águas. Sempre que ventava naquela fazenda Pererê ia pra beira do rio molhar os pés e sentir o frio do vento que ali na água ficava mais forte.
Numa noite de muita ventania, Pererê deu a luz. Era um menino, nasceu saudável, como nunca nenhum outro negrinho havia nascido. E assim que deu seu primeiro choro foi levado dos braços da mãe. Ela não derramou uma lágrima. Dizem que ela tinha gastado todas quando o pai de seu filho a deixou largada a própria sorte.
Em seguida a negra foi levada ao tronco, o fazendeiro queria ela morta, porque via nela a razão de ter perdido seu único filho, mas antes que o capataz começasse a castigá-la, um vento forte veio formando um pequeno redimunho e junto com o vento a vida da negra se foi. Ela partiu desse mundo sem apanhar, porque o vento foi mais rápido do que o chicote do capataz.
Então o fazendeito ordenou que o bebê fosse morto, o capataz pegou o moleque nos braços e foi caminhando em direção a mata, mas não deve coragem de dar cabo do menino. Porque dizem que quem mata cria pequena nunca mais consegue pregar os olhos, porque a lua não deixa, dizem que ela faz questão de lembrar o algoz pro resto da vida dele de que ele tirou uma vida ainda em botão.
O capataz não matou a criança, mas jogou-a em um poço. Um padre, que por sorte passava por perto, ouviu o choro da criança no poço e resolveu pegá-lo para criar. Amarrou um pedaço de tijolo em uma corda e jogou dentro do poço, pra poder descer e pegar o menino, mas o tijolo caiu em cima da perna da criança. O padre levou o pequeno pra igreja, chamou um médico de confiança e mandou que lhe arrancasse a perna, o médico muito bondoso aceitou fazer o bom serviço em troca de um bom dinheiro. Como se tratava de um negrinho e que agora não tinha uma das pernas, o padre resolveu criá-lo no porão da igreja.
Deu a ele o nome de Saci, Saci Pererê em homenagem a mãe do menino que ele nunca poderia conhecer. Ensinou-lhe a ler e escrever. E também ensinou pra ele sobre as ervas medicinais que haviam ali por perto. Como o porão era muito baixo o negrinho cresceu pouco. E quando se tornou adolescente o padre resolveu contar pra ele a história de como ele havia nascido. Ai Saci começou a aprontar. Durante o dia ficava escondido no porão, mas de noite saia pelas fazendas e aprontava com os animais: fazia trança na crina dos cavalos, assustava os viajantes, escondia os objetos domésticos das sinhazinhas... Até que parou de voltar pra igreja do padre, passou a morar de vez na floresta, se alimentava do mesmo que os animais e se guiava pelo vento – assim como sua mãe fazia quando ele ainda era só caroço de gente na barriga dela.
Durante muitas noites ele ia até a fazenda onde a mãe dele vivei e sempre que alguém ficava só pelos arredores da floresta gritava: -Saci Pererê, minha perna dói como o que. Um dia de tanto gritar e pular ali por perto Saci adoeceu e o vento com dó dele resolveu lhe dar um redemoinho pra andar, em troca disso o menino teria que cuidar das ervas da floresta. Trato feito. Saci agora se movia com o vento e ainda protegia a floresta. Sempre que alguém queria ir buscar ervas na floresta tinha que lhe pedir autorização.
Saci não cresceu de tamanho, mas cresceu de coração.
Dizem que aquele barulho que o vento faz e que parece um assovio é na verdade o saci, reclamando que sua perna está doendo. E que o vento é na verdade a mãe dele, carregando o menino no colo e procurando aquele rapaz, que hoje já deve ser um Sinhôzinho, o tal filho do fazendeiro, pra lhe mostrar o filho e reclamar ter sido deixada pra trás. Dizem que rodamuinho em beira de poço é um jeito que ela tem de se lembrar de chorar. Porque o vento também chora.


9 comentários:

  1. eu gostei mas e muito grande mas e a historis dele beijo pra todos...

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  2. Troque o papel de fundo porque nao da pra ler assim.

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  3. nossa bem grande mas muito interessante

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  4. Nossa, muito interessante. E triste também. Parabéns.

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  5. Triste,interessante e misterioso,será que é verdade?

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  6. e grande mais no começo da verdadeira historia do saci e emocionante mas historia legal voucontar para toda familia

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