Principe da Leopoldina
Ela entra no vagão toda atrapalhada, reclamando consigo mesma... então ele a olhou. O universo parou de rodar um pouco pra que eles se vissem pela primeira vez... e voltou a sua rotação com o apito do trem.Olhos azuis e verdes - a mescla das duas cores faziam a cor desses olhos. Ela respira fundo, senta. Ele respira fundo e se ajeita na porta, de frente pra ela. Ela abre um livro, quem disse que consegue ler? Os olhos dele a chamam, parece enfeitiçada. Nunca ligou pra olhos claros, já lhe bastavam os seus que mudavam de cor a cada mudança de tempo. Mas agora... Aqueles olhos a chamavam. Olhos azuis iguaizinhos a cor do mar. Ou seriam verdes também? Enfim... os olhos dele a olhavam e ela olhava de volta. Sabe quando alguém te olha e você percebe o olhar? E sabe quando você olha e percebe que seu olhar é percebido? Eles estavam assim. E sabiam-se assim... brincando de olhar. Chegaram ao ponto final. O maquinista manda descer. Ele desce rápido, quase corre. Ela vai sem pressa e só vê o borrão azul indo embora escada acima. Esqueci de dizer: ele vestia azul - "a cor dos principes", pensa ela.
O tempo passa!

Então, entra na primeira porta que vê um pouco mais vazia. Não tem esperança de que ele esteja lá. Pede licença a um senhor que está parado junto a porta, dá uns dois passos vagão a dentro. Percebe que alguém a olha, vira-se nesse direção e... lá está o principe dos olhos claros. Ela se espanta. Ele se espanta. E nesse espanto eles nem percebem que se olham. Quando se dão conta... coram, abaixam os rostos meio timidos, camuflam o sorriso... Ela abre o livro, ele a olha curioso. Ela não lê, não consegue ler... Os olhos a chamam. Ele olha, ela disfarça; ela olha, ele disfarça. Mas num momento os olhares se cruzam. Três segundos os laçam. Nem um dos dois ousa desviar o olhar, e nem querem. Estão mergulhados um no outro. Azuis em azuis. Ela não pensa nada. E ele pensa, pensa tanto que nem consegue saber o que pensa. O coração dispara... ele tenta formar uma palavra... Então alguém entra entre eles... ela sorri, ele igual. E a pessoa que entrou ali nem percebeu que estava entre um "quase" algo dito. O trem enche. Ela senta, pensa em pedir a mochila dele pra segurar, seria um pretexto pra falar... ouví-lo... O trem enche mais, e ele fica longe de suas mãos, não o suficiente pra que ela não posso vê-lo e percebê-lo olhando de volta. Mas o o suficiente pra que seja, no minimo, estranho ela pedir a mochila dele. O trem volta a esvaziar. Ah, seria agora? Ele se aproxima dela. Ela fica parada, olha-o de soslaio... O apito do trem soa. Ele respira pesado e se vira em direção a porta. As portas se abrem... Ele desce. Ela fica, mas também vai um pouquinho com ele... naquele ar.
As portas fecham! Próxima estação...
Até breve!
Gislaine Pereira
"Só se encontra o que se busca, o que nos é indiferente nos foge."
Sófocles
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