terça-feira, 8 de junho de 2010

Possível? Conto outro!


Principe da Leopoldina

Ela entra no vagão toda atrapalhada, reclamando consigo mesma... então ele a olhou. O universo parou de rodar um pouco pra que eles se vissem pela primeira vez... e voltou a sua rotação com o apito do trem.Olhos azuis e verdes - a mescla das duas cores faziam a cor desses olhos. Ela respira fundo, senta.  Ele respira fundo e se ajeita na porta, de frente pra ela. Ela abre um livro, quem disse que consegue ler? Os olhos dele a chamam, parece enfeitiçada. Nunca ligou pra olhos claros, já lhe bastavam os seus que mudavam de cor a cada mudança de tempo. Mas agora... Aqueles olhos a chamavam. Olhos azuis iguaizinhos a cor do mar. Ou seriam verdes também? Enfim... os olhos dele a olhavam e ela olhava de volta. Sabe quando alguém te olha e você percebe o olhar? E sabe quando você olha e percebe que seu olhar é percebido? Eles estavam assim. E sabiam-se assim... brincando de olhar. Chegaram ao ponto final. O maquinista manda descer. Ele desce rápido, quase corre. Ela vai sem pressa e só vê o borrão azul indo embora escada acima. Esqueci de dizer: ele vestia azul - "a cor dos principes", pensa ela.

O tempo passa!

Ela se dirige ao trem. Pensa: "Bem, que ele podia pegar o trem de novo comigo... ah, o universo podia conspirar um pouquinho só a meu favor..." Mas resolve mudar de caminho, pegar um ônibus pra variar. Só que uma fada a faz olhar pro lado e ela vê aquele principe do outro momento, indo na direção que ela iria. Sorri e pensa: "Ah, obrigada 'universo'." E volta ao seu trajeto diário (e que agora divide com o cavaleiro de azul). O trem apita... ele corre, ela fica pra trás - ainda estava muito distante, acha melhor nem correr... Perderia o trem de qualquer forma. "-Deixa pra lá, as coisas acontecem quando e como tem que acontecer". Então, eis que ela chega na plataforma e o trem ainda está lá... Ah, esse universo! Várias portas a sua escolha. Ele entrou com certeza, mas qual a chance dela entrar no mesmo vagão que o dele? Pensa: "Ah, o universo podia me dar uma forcinha" e ri da sua "bobisse". Pensa "-Qual a real chance de ser o mesmo vagão? Ai já seria demais, eu me espantaria se fosse assim tão..."
Então, entra na primeira porta que vê um pouco mais vazia. Não tem esperança de que ele esteja lá. Pede licença a um senhor que está parado junto a porta, dá uns dois passos vagão a dentro. Percebe que alguém a olha, vira-se nesse direção e... lá está o principe dos olhos claros. Ela se espanta. Ele se espanta. E nesse espanto eles nem percebem que se olham. Quando se dão conta... coram, abaixam os rostos meio timidos, camuflam o sorriso... Ela abre o livro, ele a olha curioso. Ela não lê, não consegue ler... Os olhos a chamam. Ele olha, ela disfarça; ela olha, ele disfarça. Mas num momento os olhares se cruzam. Três segundos os laçam. Nem um dos dois ousa desviar o olhar, e nem querem. Estão mergulhados um no outro. Azuis em azuis. Ela não pensa nada. E ele pensa, pensa tanto que nem consegue saber o que pensa. O coração dispara... ele tenta formar uma palavra... Então alguém entra entre eles... ela sorri, ele igual. E a pessoa que entrou ali nem percebeu que estava entre um "quase" algo dito. O trem enche. Ela senta, pensa em pedir a mochila dele pra segurar, seria um pretexto pra falar... ouví-lo... O trem enche mais, e ele fica longe de suas mãos, não o suficiente pra que ela não posso vê-lo e percebê-lo olhando de volta. Mas o o suficiente pra que seja, no minimo, estranho ela pedir a mochila dele. O trem volta a esvaziar. Ah, seria agora? Ele se aproxima dela. Ela fica parada, olha-o de soslaio... O apito do trem soa. Ele respira pesado e se vira em direção a porta. As portas se abrem... Ele desce. Ela fica, mas também vai um pouquinho com ele... naquele ar.
As portas fecham! Próxima estação...
Até breve!


Gislaine Pereira



"Só se encontra o que se busca, o que nos é indiferente nos foge." 
Sófocles

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