domingo, 30 de janeiro de 2011

A noite de Luzia

Insone... as horas passam sem cuidado algum com ela. A madrugada se estende. E ela se vira e desvira na cama já molhada pela água dos seus olhos.
Os pensamentos a tomam... Então dorme... 
Ela se jogou num abismo sem fim, se atirou inteira, sem amarras, sem cuidados. 
Olha lá... lá vem ela, assustada, vagueando na cidade vazia e escura.
Lá vem ela, segurando um embrulho vermelho.
Lá vem ela... caindo no chão. Sujando ainda mais o vestido branco. Borrando ainda mais a maquiagem.
Suando e chorando. Ela se levanta, cambaleia, anda se encostando nos muros.
Sente-se despedaçada. 

Desperta... cansada, exausta, já sem forças pra brigar consigo mesma...

Então dorme, pelo cansaço, pela solidão, pelo sono que a empestiou... ela dorme.

E nos seus sonhos, sonha que o vestido está limpo, rosa e rodado. Ela sonha que ele está ali entre seus braços e que pode sentir seu cheiro, sonha que ele a olha como olhou na primeira vez. Ela sonha que os sonhos são reais... então o abraça. O abraça com os braços, com as pernas, com a alma. E ai... ai ele some! Ela desperta, meio chorosa, meio rindo de si. E passa o restinho da noite entre pequenos sonhos e grandes despertares*.
De manhãzinha, ao levantar da cama traz consigo as olheiras das noites mal dormidas e a dor de cabeça que a vem acompanhando a dias... e só.

Ah Luzia, vê se acha suas forças de novo, Luzia. A tristeza lhe faz muito mal. Vê se ajeita Luzia, vê se se apruma Luzia... "Anda, Luzia. Pega um pandeiro, vem pro carnaval. Anda, Luzia. Que essa tristeza lhe faz muito mal. Apronta a tua fantasia. Alegra teu olhar profundo. A vida dura só um dia, Luzia. E não se leva nada desse mundo".


Gislaine Pereira




Na vitrola: Anda Luzia (Maria Bethânia)


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