quarta-feira, 15 de junho de 2011

Meus pés descalços

Numa bela noite de lua crescente. Eles se encontraram em frente a um coreto. 
Ele a chama para dançar - acredita que ela declinará ao convite. Mas ela sorri gentilmente e aceita. Ele então a conduz a pista, ainda desconfiado de que o sim não tenha sido um sim mesmo, e quando chegam a beira do salão ele pergunta à ela se percebeu pra onde estão se encaminhando. Ela o olha nos olhos e diz que sim. Então eles vão juntos ao centro do salão, preparam-se; ele segura uma das mãos dela, posiciona a outra sob seus ombros, abraça sua cintura e começa a guiá-la salão adentro. Bem lenta e suavemente os dois começam a dançar, parecem seguir uma música única, uma música que só toca dentro deles. Ele se atrapalha um pouco e ela também, mas é como se dançassem uma coreografia feita somente para eles... Algo que ninguém mais poderia dançar. 

Então ela percebe que não tem sapatos próprios para a dança, se desespera, se desvencilha, mas ele a acalma dizendo que não precisam dançar se não quiserem. Ela sorri e respira fundo, e quando menos espera já estão valsando novamente.
Claro que ela volta a ficar tensa, vez em quando, mas ele a acalenta. Houve somente uma vez em que foi ele que se irritou com os pés descalços, e a dança quase acabou ali. E foi nesse momento que ela o acarinhou, dizendo que eles não precisavam dançar de verdade. Abraçaram-se calmamente, ela se aninhou no peito dele e respirou fundo. E num piscar de olhos lá se foram eles salão à dentro... 

Ela nunca se deixou conduzir numa valsa assim antes, e sem sapatos apropriados era muito difícil dar meio passo. Aquilo mudaria seus pés pra sempre! E ela sabia bem disso, a dança já era um lugar completamente novo pra ele, estranho e até dolorido de se estar. Mas ela queria dançar com ele, ser conduzida por ele. E dançaram... Mas não terminaram a dança. Eles pararam os passos, antes que a música cessasse. 
Nela um eco continuo cantando... 

Dias depois ele nem se lembrava mais daquilo, enquanto ela ainda tentava fazer seus pés pararem de tamborilar, seu coração pulsava agora nos pés, mas ele não notou. Ele não percebeu como ela respirava agora fundo todas as vezes que o via, parecia que tinha que se lembrar como devia fazer pra respirar.
Tinha que se lembrar que continuava descalça... e incompletamente confusa.

 -  Gislaine Pereira  -





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