quinta-feira, 10 de junho de 2010

Minha garganta arranha

"Gastei uma hora pensando um verso 
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro 
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira"

(Drummond)


Só por hoje eu não tenho certeza de nada, nem de quem sou, nem do que estou fazendo aqui. Hoje eu não sei de nada, quase não sei meu nome. Não me lembro quando comecei a sentir essa dor aqui... essa que me faz calar. Esse nó vermelho que me ata a mim e me silencia diante de tudo. Me perdi no tempo e isso já faz tempo. Eu tenho uns medos! Eles são muitos. Não to tentando entender, não adianta mais. Só to tentando acalmar essa minh'alma. Perdi a voz... talvez pra que eu ganhe de volta minha calma, minha alma, minha consciente certeza de quem sou... Se é que essa certeza algum dia existiu... Hoje falta-me aquela coragem de outrora. Falta-me o desafio. O precipicio convidativo. Me falta aquela paciência de quem pondera bem as coisas antes de dizer ou fazer algo. Talvez por isso eu esteja tão rouca: porque preciso aquietar meus gritos aqui dentro. O peso do silêncio espreme minha garganta! Já calei tanta coisa, talvez por isso eu esteja rouca, porque não grito meu grito, então ele me explode por dentro. É tanto talvez que eu começo a juntar tudo e chego a conclusão de que 'eu só sei que nada sei'. Eu não tenho certeza de nada. To só colecionando teorias sobre minha voz. Eu não acho certo certas coisas ditas e também não acho certo dizer certas coisas. Não acho certo certas posturas adotadas, algumas coisas escondidas e não acho certo esse barulho todo. Queria conseguir ficar em silêncio comigo, tem muito barulho aqui dentro. E tem muito barulho ai fora. Preciso de uma valvula de escape, preciso escapar dos meus pensamentos, preciso me encontrar nesse caos que sou hoje. Só por hoje preciso de um abraço que compreenda essa água tomando vazão, que não a questione, que só a abarque. Preciso desaguar esses medos. Eu to querendo achar meu lugar no mundo e to cada vez mais perdida. Eu não me encaixo. Eu não me enquadro no que estão querendo me pintar... E eu só queria me entender... "Estou empacotando as vontades e desembrulhando as necessidades. É hora de ser, e não de querer, embora eu tanto queira".


"Gatinho Risonho", disse Alice, "poderia dizer-me, por favor
que caminho devo tomar agora?"
"Depende muito de onde está querendo chegar", disse o gato.
"Não me importo muito para onde estou indo", disse ela.
"Então não importa que caminho irá tomar", disse o gato.

Alice no País das Maravilhas - Lewis Carrol
 

Um comentário:

  1. TAMBÉM VOU DE DRUMMOND: A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos,na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
    A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.
    bju

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