terça-feira, 7 de setembro de 2010

Um doce por seus pensamentos...

O pé atrás se juntou com outro pé e virou dança.
-Dança que espanta o medo, menina!!!
Me vejo refletida em dois olhos que me fitam sem dizer palavras, mas dizendo muito mais que elas... Seus olhos te traem! E eu costumo ler olhos, mas daria um doce pelos pensamentos que os movem.
O silêncio me habita, me tange, me provoca, sorrio por dentro... quero ficar ali parada e só respirar, sentir que minha respiração não é só minha.
Seu olho direito treme, seus olhos fogem dos meus... o que eu posso dizer pra desvendar o que se passa?
Será que devo...
Eu não sei... não sei de nada. Não sei onde piso, não sei como me portar, não sei o que passa ai dentro... Sei que não ajudo, porque eu quero descobrir tudo o que está encoberto, mas não é do que está na superficie que falo... É o que vem por baixo disso tudo. E pra descobrir eu fico quieta e a espreita, quero desvendar em cada detalhe o que está ai, assim bem escondidinho, o que é que não se mostra... O que move? O que faz seu coração disparar assim?
O que eu posso fazer pra acalmar? A mim? A você...
E eu que queria ficar quietinha, já desandei a falar aqui... Ah, seu moço, ligue não... De vez em quando eu tenho uma necessidade louca de me contar.

Tinha uma voz bem pequenininha que ficava me dizendo:
-Oh, menina... tome cuidado, deixe esse pé pra trás antes que você se machuque!
Mas a voz foi ficando cada vez menor... até que não passasse de uma pontadinha na beira do estômago. Eu só espero que ela não tenha sumido em vão... eu tenho meus medos, culpa da voz talvez. Culpa de que não sei, mas não brinque comigo não seu moço, deixe que a voz fique quieta e que não volte nunca mais!!!!
Só sei que nada sei!
Sei que não consigo ficar quieta muito tempo, falta força...

Parafraseando Drummond:
"Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale
.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...

Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos."

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