Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O
primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro
amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não
tentaste qualquer viagem.
Não
possuis casa, navio, terra.
Mas
tens um cão.
Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A
injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado murmuraste um
protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias precipitar-te, de
vez, nas águas.
Estás nu na areia,
no vento...
Dorme, meu
filho.
Poema de Carlos Drummond de Andrade
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