sexta-feira, 28 de junho de 2013

Palavras

-Se os sentimentos fossem palavras seria mais fácil, imagine que se eu não quero sentir algo, eu vou e falo e ai o sentimento vai embora...
-É, seria mais fácil, mas será que seria bom?
-Claro!!!!
-Sei não... 
-Imagine só... Não haveria espaço pra nenhuma mágoa. Quando você falasse ia tudo embora, só ia ficar ar no lugar.
-Mas... tudo iria embora?
-Sim!!!
-Então não ia ser bom!
-Por que não?
-Por que você não ia poder falar nada... Ia TUDO embora!
-...


-O que você sente por mim?
-Ah, eu go... Eu go... Ai, eu não posso dizer!
-É... Nem eu!
-Eu quero dizer que você me faz b... Que me faz f... Que eu quero poder te a...
-Ta vendo. Se tudo que você fala vai embora, então tudo vai embora!
-Mas deve haver algum jeito...
-Talvez se você disser, esse sentimento venha pra mim e ai eu falo e ele volta pra você...
-Mas vai ter sempre um de nós vazio desse jeito.
-E se a gente falar junto? Pode ser que dê certo... Pode ser que ai as suas palavras fiquem em mim e as minhas em você.
-Mas e se elas escaparem? E se a gente não conseguir falar exatamente junto? Se um de nós perder tempo... Alguém vai se esvaziar...
-A gente combina e fala exatamente na mesma hora!
-Mas ai não vai ser mesmo de verdade... Porque um dos dois pode não estar sentindo no momento exato e vai ter que dizer, só porque combinou de dizer...
-Então a gente sente o momento e diz.
-E se a gente errar o momento? Como é que vamos saber a hora certa de dizer? Juntos...?
-Não vamos! Acho que nós seremos privados das palavras... Elas podem apagar tudo o que a gente sente!



Então se olharam e se olharam e se olharam...
Tentando sentir o momento certo de dizer.
E tanto se olharam que perderam o momento de dizer... Mas descobriram o momento certo de sentir.
E descobriram um jeito outro de dizer, um jeito em que as palavras não serviam, um jeito de dizer com os olhos, de sorrir com os olhos... De ver de verdade sem nada dizer.
E quando já nem queriam dizer nada souberam o momento exato e sem que precisassem combinar nada... Silenciaram!
Os olhos já haviam dito tudo.
Sorriram!

(Gislaine Pereira)




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